terça-feira, 16 de outubro de 2012

Escola deixou crianças à fome

« Nada justifica uma criança passar fome. Não é justo castigá-la a ela." A crítica é de Teresa Francisco, mãe de uma criança de cinco anos que foi proibida de almoçar na última quinta-feira na EB1 nº 2 de Quarteira (Loulé). Tudo porque a família não pagou a mensalidade da alimentação, cerca de 30 euros.
A denúncia do caso partiu de pais de outros alunos, que pediram anonimato, que ficaram revoltados com a situação, considerando um acto de "má-fé" a forma encontrada pela escola para lidar com o caso. Ao que o CM apurou, mais alunos não almoçaram nesse dia pelos mesmos motivos, noutras escolas do Agrupamento Dr.ª Laura Ayres.
A aluna da EB1 nº2 frequenta a pré-primária e terá mesmo ficado "sentada ao lado dos colegas, sem refeição, enquanto estes almoçavam", conta Teresa Francisco. Vários pais criticam a violência psicológica a que a menina foi sujeita e afirmam que "uma das funcionárias foi impedida pela direcção da escola de pagar a refeição da menina do seu próprio bolso".
Sobre o assunto, a directora, Conceição Bernardes, explica que "todos os pais foram informados das medidas, que seriam aplicadas caso não regularizassem as dívidas até 9 de Outubro". Além disso, "podiam ter pedido a renegociação desses valores e até dos escalões, mas alguns foram negligentes e não o fizeram". Os casos de incumprimento "foram participados à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens". »


  Deparo-me hoje com esta notícia que penso que, a todos nós, estudantes de Direito, interventivos como teríamos o dever de ser, deveria causar algum mau estar. De Direito Administrativo se tratando, esta é uma questão que se remete a, a meu ver, um dos que são os pilares principais: o Ensino (um dos bens que maiores frutos trará num futuro relativamente próximo) e, talvez mais básico ainda, a alimentação. 
  Da minha parte, pergunto-me qual será a solução e quando é que "o estado do sítio" melhorará. O défice aumenta desmedidamente, os particulares têm cada vez menos capacidade de resposta e são insustentáveis os aumentos de impostos.
 As famílias não têm qualquer possibilidade de investimento e, qual país de terceiro mundo, a fome começa a espalhar-se.
  Nutricionistas defendem que as crianças bem alimentadas têm maior capacidade de concentração nas aulas. Estão mais atentas e concentradas e isto traduz-se em melhores resultados escolares. E, como se de um círculo se tratasse, melhores resultados escolares implicam menos gastos para o Estado. Conforme refere o jornal Expresso, « há cada vez mais crianças com carências alimentares. »
 Possivelmente, as prioridades estão mal calculadas. Por mais medidas de austeridade que venham a ser impostas, são dolorosos casos de insensibilidade e falta de solidariedade como estes.




Por Rita Cristina Martins, nº 21909

7 comentários:

  1. Sinceramente nem sei se é falta de solidariedade ou se é falta de "humanidade".

    Deixar uma criança de cinco anos sem almoço durante todo o dia por uma dívida dos pais, obrigá-la a estar à mesa vendo os outros comer, não permitindo sequer que a funcionária lhe pagasse o almoço, faz-me pensar exactamente nos princípios que hoje em dia parecem estar baralhados.

    Acho que, por mais dificuldades que o país enfrente, nada justifica uma criança ser sujeita a tal crueldade. E quem diz esta diz outras.

    Sara M.

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  2. Concordo contigo Rita, foi impossível assistir a esta noticia e não me sentir indignada. Não só por ser estudante de Direito, o que também contribui, mas essencialmente enquanto ser humano sensível ao que me rodeia. A atitude tomada não me parece justificável, nem mesmo com os argumentos apresentados. Como também é referido na notícia, a violência psicológica a que esta menina foi exposta é desumana!Não basta o facto de lhe ser negada a refeição como ainda fazem deste momento uma experiência torturante. Impedindo nomeadamente, uma das funcionárias de lhe pagar a refeição. O alerta para os pais destas crianças podia ter chegado de uma outra forma, mesmo que estes estivessem a par das possíveis consequências que a falta de pagamento implicava. A direcção de uma escola, supostamente, tem de fazer de tudo para que os direitos das crianças não sejam lesados, o que não ocorreu de todo neste caso, uma vez que é ela o próprio lesante. Basta um olhar atento para Portugal, para percebermos que existe a possibilidade de um dos pais estar desempregado ou até mesmo ambos, de o rendimento mensal já não conseguir suportar todas as despesas, até mesmo as básicas...A crise de um país não deveria ser sinónimo de crise de valores.
    Nas aulas temos falado acerca da dificuldade de perceber e caracterizar o interesse da comunidade. Na minha opinião, este passa também por serem criadas condições, por aqueles a quem lhes compete, para que situações como esta não se voltem a repetir.

    Ana Marta Limpo

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  3. Se os horários estipulados pelas escolas aos estudantes de pré.primária e 1ºciclo, abragem hora de almoço e hora de lanche, que legitimidade terá uma escola pública de privar uma criança de 5 anos a almoçar?! Que poder é esse, que permite à escola sancionar uma criança, culpando-a pela falta de incumprimento da obrigação dos pais pagarem a mensalidade de alimentação?!
    De que será feita a pessoa que trabalhando numa escola, tem coragem de impedir uma criança de se alimentar e proibir que lhe pagem refeição?!
    Ilucidem-me!!


    Inês Mourão
    Nº 20959

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  4. Como se não fosse bastante a falta de condições económicas que esta família enfrenta (já castigo suficiente), decide uma escola redobrar o castigo de uma criança!
    Será que a instituição de ensino em questão julga que impedindo a criança de se alimentar a situação será solucionada? Aparecerá, de repente, dinheiro aos pais para fazer face às despesas crescentes nos serviços de educação? Educação que é um direito de todos!

    Ainda argumenta a directora que "todos os pais foram informados das medidas, que seriam aplicadas caso não regularizassem as dívidas até 9 de Outubro"! Extraordinário! E a sensibilidade desta senhora para gerir uma instituição de crianças? São estes os valores a transmitir?

    A continuar assim a evolução do nosso país, muito por força das novas políticas de austeridade, mais crianças ficarão sem comer? Ou irá o Estado olhar para estes casos extremos e viabilizar uma atribuição de subsídios para evitar estes fins trágicos?

    - Sofia Marieiro

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  5. Não sei se já tomaram conhecimento, mas há uma petição online (que vou linkar no final do comentário) para proceder ao despedimento por justa causa da directora da Escola em questão...
    http://www.peticaopublica.com/?pi=P2012N30471

    Ana Laura Miranda

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  6. Bom dia colegas,
    Sofia Marieiro, não podia estar mais de acordo contigo. Com as dificuldades económicas que se atravessam, é provavél até que a comida em casa para alimentar essa e outras famílias seja escassa.
    Posso falar até em algo que me aconteceu: aqui à uns meses, uma senhora pediu à minha mãe se a poderia ajudar porque não tinha sequer um pão para dar ao filho, que não pedia para ela mas apenas para o filho. Uma pessoa que conhecemos à anos e que estavamos longe de pensar que assim pudesse ser. Já viram ao estado em que isto está a chegar? O marido da senhora já foi para fora (para o estrangeiro), porque aqui não conseguia arranjar emprego e quando arranjou, trabalhou sem remuneração porque no fim não lhe pagaram. Felizmente estão melhores financeiramente, mas se a minha mãe não lhe tivesse dado comida, pergunto: "Como é que uma criança (já nem falo dos pais), poderia sobreviver e ter aproveitamento escolar numa situação destas?"
    Se pensarmos no que a criança deve sofrer ao assistir na primeira pessoa a tudo isto, a ter que viver tudo isto e ainda chega a escola e é "humilhada" em frente a todos os colegas... Atrever-me-ia a dizer que para que a situação ficasse minimamente justa, não só a directora deveria nunca mais poder exercer tal função, como deveria ainda ser sancionada.
    Honestamente, tenho vergonha de partilhar o nosso país com pessoas como essa dita "Senhora Diretora". A desumanidade dela vai contra todos os princípios e valores morais.

    Ana Laura Dias

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