domingo, 21 de outubro de 2012

Farmácias "de luto"












Farmácias “de luto” explicam aos utentes riscos de encerramento

As farmácias portuguesas foram chamadas a “pôr luto” e a explicar aos utentes as razões que podem levar ao encerramento de 600 unidades, numa acção que começa nesta segunda-feira e que inclui uma petição ao Governo para alterar as políticas do sector.
O vice-presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF), Paulo Duarte, explicou à agência Lusa que a iniciativa envolve estudantes de farmácia, jovens farmacêuticos, sindicatos do sector e a ANF e pretende “explicar junto da população as dificuldades que actualmente as farmácias vivem e alertar para o risco de 600 farmácias poderem encerrar durante 2013”. A acção de sensibilização foi decidida na assembleia geral da ANF, dia 15 de Setembro e na quarta-feira as farmácias foram chamadas a participar, o que Paulo Duarte espera venha a acontecer por todo o país.Cada farmácia vai adaptar o espaço de acordo com as suas características, escolherá um elemento negro para simbolizar “o luto”, como faixas ou “um laço preto, simples, de tecido que os farmacêuticos terão na sua bata”, e utilizará material informativo para as explicações sobre as dificuldades enfrentadas, relatou o vice-presidente da ANF. 

Alguns dos documentos referem-se à situação das farmácias na Grécia, que têm falta de medicamentos para dispensar aos utentes, acrescentou.A situação actual “deve-se a alterações na política do medicamento e à penalização das farmácias, não só pela degradação do preço dos medicamentos como pela degradação da sua margem”, um caminho que Paulo Duarte diz “não ter sido avaliado previamente”. Por isso, “irá iniciar-se uma petição ao Governo para que tome medidas e impeça que estas 600 farmácias tenham de fechar em 2013”, avançou o responsável.Os profissionais pretendem informar acerca dos resultados de avaliações e estudos realizados sobre o sector a demonstrar que as farmácias estão a funcionar já com uma margem negativa, ou seja, “sempre que dispensam um medicamento, o que recebem não é suficiente para suportar os seus custos”.Por isso, “se nada for feito o risco é que um número significativo de farmácias, cerca de 600, possa vir a encerrar”, afirmou Paulo Duarte, apontando o impacto a nível de emprego, pois “há cerca de 100 mil famílias que dependem directa e indirectamente das farmácias”. 

Segundo dados da ANF, Portugal tem cerca de 2900 farmácias.
Fonte: Público

Embora esta notícia seja de Setembro, não deve ser, de nenhuma forma, indiferente, pois o encerramento de farmácias é um problema que nos afecta a todos e, como tal, há que ser conhecido e debatido.
Está em causa um dos serviços fundamentais à nossa sobrevivência, a Saúde (conforme artigo 64º da Constituição da República Portuguesa)

Dada a conjuntura económica, é certo que se impõe uma consciencialização à sociedade no sentido de haver mais contenção e racionalidade nas escolhas feitas tendo em vista o bem comum, no entanto, considero e acho que é unânime que as medidas de austeridade estão a ser extremas, o que leva, no âmbito da saúde, a população a procurar cada vez mais os medicamentos genéricos e consequente redução na procura dos outros medicamentos.

É notório um contra-senso nesta questão: por um lado, através das medidas impostas pelo governo, tem havido uma maior facilidade, no acesso a medicamentos, para toda a população, com os medicamentos genéricos, a preços mais reduzidos; por outro, o consumo massivo destes medicamentos faz com que reste uma quantidade elevada dos outros que não são genéricos o que, a par da imposição das autoridades competentes de reduzir os seus preços de venda ao público, tem incitado a indústria farmacêutica a vendê-los lá fora (estrangeiro), a preços superiores aos que venderia em Portugal. Esta exportação faz com que haja escassez desses mesmos medicamentos em Portugal, podendo concluir-se que a conjugação destes aspectos está a conduzir o negócio das farmácias a uma situação cada vez mais difícil, temendo-se mesmo insustentável. É aqui que nasce a crise das farmácias portuguesas e consequente luto.

Paulo Fonseca, Presidente da Direcção Regional de Coimbra da Ordem dos Farmacêuticos: "São 600 Farmácias que correm o risco de fechar em 2013. São 1.131 Farmácias que têm fornecimentos suspensos. Há 235 milhões de euros de dívida litigiosa a correr nos Tribunais. Este ano, prevê-se que numa Farmácia média os resultados líquidos sejam negativos na ordem dos 40 mil euros…"

Embora o Governo não tenha sido causa directa, na medida em que não “ordenou” o encerramento das farmácias, o que é certo é que as medidas impostas por ele tornam insustentável a actividade das farmácias e, impossibilitadas de prosseguir os seus fins e prestar os serviços que lhes são próprios, muitas farmácias sentem-se “forçadas” ao encerramento por falta de condições.

Desde o recusar comida a crianças em fase de crescimento, como a colega Rita Martins referiu, ao encerramento de farmácias, os direitos mais fundamentais dos indivíduos, emerge claramente um repensar urgente nas prioridades deste Estado.

Afectar direitos tão fundamentais como estes é desumano.



                                                                                                       Simone Costa Santos, nº 21927

3 comentários:

  1. Boa tarde, Simone
    Apesar de, como referiste, a notícia ser de Setembro, está completamente actualizada pois lembro-me de, durante a semana passada, ter visto no noticiário um comentário acerca desta matéria, alertando, para além disso, para a falta de medicamentos que é cada vez maior, havendo uma crescente dificuldade em aviar uma receita no próprio dia (conforme consta, também, neste pequeno artigo do Jornal Diário de Notícias: http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=2056454&especial=Revistas%20de%20Imprensa&seccao=TV%20e%20MEDIA).

    Agradecendo desde já teres feito referência ao meu artigo, acerca da importância da alimentação das crianças em fase de crescimento, venho desta forma concordar contigo quanto à importância da Saúde e dos medicamentos para a sobrevivência e para a manutenção da qualidade de vida de uma grande percentagem da nossa população, por doenças do foro não só físico, mas também mental.
    A ideia de um "luto" parece-me muito audaz, principalmente quando esta vem informada de informações para a população.
    A verdade é que cada vez mais, devido às fortes pressões austeras que têm vindo a ser impostas, para além de as pessoas, como referiste, procurarem substituir os medicamentos por genéricos, aproveito a oportunidade para destacar a todos os colegas uma situação deveras grave, que merece ser discutida: existe um número crescente de pessoas que deixam de tomar os medicamentos por falta de possibilidades monetárias para os levantar. Ouço agora constantemente idosos dizerem que têm que fazer uma racionalização entre medicamentos e alimentação, dois bens tão prioritários.
    O encerramento de farmácias é devastador e levará cada vez mais a tornar-se difícil que a população tenha acesso à Saúde, e, em grande parte não há forma de retirar culpa às políticas que têm vindo a ser tomadas, que aplicam severas medidas que tornam insustentáveis a manutenção de milhares de estabelecimentos em todas as áreas.


    Por Rita Cristina Martins (nº 21909)

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  2. Concordo inteiramente contigo, Rita.
    Realmente, esqueci-me de mencionar esse ponto tão importante: o dilema entre alimentação e medicamentos.

    Grande parte da população encontra-se nesse dilema: o prescindir de um bem em prol de outro. A questão é: Como bens essenciais e IMPRESCINDÍVEIS à sobrevivência humana que os medicamentos e os alimentos são, como optar?

    É triste e lamentável esta situação.

    Simone Costa Santos (nº 21927)

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  3. Concordo inteiramente com a necessidade de existência de farmácias! Realmente, estas assumem enorme importância no acesso a medicamentos para a sobrevivência e para a manutenção da qualidade de vida de uma grande percentagem da nossa população. É um direito que deve ser mantido!
    No entanto, uma medida no sentido de redução do número farmácias, em determinadas situações, não me parece escandalosa. Até seria benéfico em certos casos.
    Por exemplo, há ruas onde podemos encontrar 2 ou 3, se não mais, farmácias. Será tal necessário? Por vezes é uma questão de poucos metros de distância entre as portas de cada uma.
    E mais, muitas delas não apresentam alguns dos medicamentos comparticipados que os utentes necessitam, pelo que estes têm duas soluções: ir à farmácia do lado, ou pedir que "mandem vir" o medicamento e esperar pela sua entrega. Já assisti a inúmeras situações destas...
    Ora, não seria mais eficiente, nessas ruas de farmácias, ter apenas uma farmácia que garantisse TODOS os medicamentos necessários?

    Sofia Marieiro
    Nº 22199

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